17 de abril de 2011

Stand Up Na História - TIRADENTES

21 de abril. Todo mundo sabe que é feriado, mas nem todo mundo sabe o porquê. O cara tenta salvar a soberania do Brasil, sofre as consequências, morre como mártir, e a galera fica fazendo planos pra viajar no feriadão, mas não sabe que é o dia em que Tiradentes morreu. É um pouco estranho! Por isso decidi imaginar um Stand Up do cara que morreu com a fama de traidor para Portugal, mas herói para o Brasil.

Entra Tiradentes com aquela roupa em que foi enforcado. Ele pega o microfone depois de agradecer os aplausos.

"Legal como esse negócio de apelido pega... Todo mundo sabe que meu nome era Joaquim da Silva Xavier, meu apelido era Tiradentes... Agora se fosse pra me apelidar hoje, com certeza meu apelido seria Raul Seixas".

"Não posso dizer que gosto de trabalhar... Sabe como é... eu gosto de enforcar o trabalho".

"Não tenho filhos, até porque se tivesse, eles poderiam ter tirado o pai da forca".
"Vou confessar uma coisa... Fiquei puto com o tal dedo duro que delatou a galera. Descobri que ele queria na verdade limpar o próprio nome... Custava ele esperar cinco anos pra caducar a dívida"?

"Nunca fui muito fã da justiça, quer coisa mais injusta do que aconteceu comigo? Eu deveria ser justiceiro, aí comigo seria sempre olho por olho e dente por dente".

"Ninguém sabe qual é o meu dia, mas todo mundo ama o 21 de abril, porque sempre é feriado. Agora uma coisa que eu não entendo é o seguinte... É feriado no dia em que o menino Jesus nasceu... E o meu feriado é no dia que eu nasci? Não! Até parece que estão comemorando a minha morte"!

"Pra quem não sabe eu sou mineiro... Como eu não fui enterrado, seria impossível voltar do mesmo buraco que os mineiros do Chile voltaram. Agora se eu voltasse, desta vez seria para me enforcar. Porque ninguém merece viver com o salário que dizem ser mínimo".

"Viver com o salário mínimo, no máximo dá pra uns cinco dias. Os outros dias o brasileiro vive o mínimo possível, porque o salário acaba rapidinho".

"Pior é não ser enforcado, pior que isso só perdendo a cabeça... Eu perdi... Fui esquartejado... Era perigo você encontrar no mercado da época parte de mim numa bandeja no setor de presunto fatiado".

"Tá ligado que eu morri por conta da derrama, imposto cobrado pela coroa portuguesa na época da inconfidência... Derrama é um nome feio, parece doença sexualmente transmissível. Vejo até campanha educativa: use camisinha pra não morrer de derrama".

"Gosto de pensar no que o tempo pode influenciar nossas vidas, eu se tivesse nascido na década de setenta, seria um exilado que lutava contra a ditadura... Se eu tivesse nascido na época do descobrimento, provavelmente seria um índio lutando contra os conquistadores... Se eu tivesse nascido nos dias de hoje, seria do MST invadindo fazenda a base de foice e com camiseta de político".

"Eu tinha o sonho de escrever as minhas memórias, mas descobri que não é mais possível, afinal de contas, agora o Chico Xavier tá aqui comigo".

"Tem umas perguntas idiotas que às vezes eu escuto... Como essa: Tiradentes, se você pudesse ser outra pessoa, quem você gostaria de ser? Qualquer uma, desde que fosse viva já tá valendo"!

"Ainda hoje ficam me perguntando: Tiradentes... qual foi a última coisa que passou pela sua cabeça? O alçapão"!

"Mas eu tô tranquilo, porque hoje não tenho ódio dos portugueses, afinal de contas, são patrícios e compram o Rock and Rio em Lisboa... E outra... E prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo"!

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